10 de jan. de 2011

Entre Vozes e Letras

FORÇA AFRICANA


Por Juliana Farias

Escritora, Psicóloga e Presidente do Centro de Referência e Estudos da Tradição e

Cultura Afro-Brasileira do Ilê Axé Pilão Odara – CRETCAB-IAPO.



Nos tumbeiros, vieram os negros
arrancados de seu continente, de seu povo.
Concentrados em fortalezas,
encaminhados para os portos de embarque.
Na praia: o lugar do não retorno,
últimos momentos, pisando no chão firme
e seguro de sua terra.
Que destino incerto é esse que se inicia?
Jogados nos porões como mercadorias,
empilhados como sacos de carvão,
enfileirados, apertados, esprimidos.
Sem direito a nada trazer,
sua bagagem era sua mente,
onde fervilhavam lembranças
que, aos poucos, vão se transformando
em saudade doída... sofrida.
Banzo... nostalgia... melancolia.
Desembarcados em terras distantes,
vencida a crueldade da travessia,
a saudade, que arde no peito,
abranda-se, quando a esse escravo,
pisando com seus pés descalços
nessa nova terra, é permitido:
tocar,
dançar
e cantar.
Relembrando seus mitos e seus ritos,
faz-se presente a força de sua etnia.
As marcas de seu aprendizado
não estão só em suas faces,
vibram em todo seu corpo,
fazendo dele uma fortaleza.
Mesmo distante dos seus,
sua identidade não o abandona.
Celebra o território perdido
na magia do círculo:
do terreiro de Candomblé,
da capoeira, do jongo,
do tambor de crioula e do samba,
que o levam de volta,
que permitem a ele transcender
os limites terrenos e buscar na fé
vivida e aprendida com seus ancestrais,
a força para resistir, realizar e construir.
Na incerteza da dispersão – diáspora,
na crueldade da escravidão,
ele: negro, africano, escravo
lança-se, como a flecha de Ode
– o caçador,
na busca de tempos melhores,
na construção criativa e vigorosa
de uma nova Nação.
Aí, ele deixa de ser ele mesmo,
para sermos nós: os Brasileiros.
Felizes os brasileiros que compreendem a grandiosidade dessa herança ancestral
africana,
a força de povos que mesmos subjugados e humilhados não deixam morrer dentro de
si o raio de sol
que aquece e dá sentido a suas vidas.
 
 
 
ESTE TEXTO ESTA DISPONÍVEL NA REVISTA ÁFRICA E AFRICANIDADES.
 
Revista África e Africanidades - Ano I - n. 2 – Agosto. 2008 - ISSN 1983-2354
http://www.africaeafricanidades.com/

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